sábado, 6 de agosto de 2016

Donald Robertson vira celeb na rede com suas ilustrações ultracool





Um dos fundadores da M.A.C, o canadense Donald Robertson vira celebridade na rede graças às ilustrações que combinam high fashion com caixas de sucrilho e papel higiênico. Nô Mello vai até sua casa nos arredores de Nova York para desvendar o homem por trás do mito.
Seja você muito ou pouco ligado no Instagram, não dá para negar a impressionante escalada de importância da rede social na cena fashion. Incontestável prova é a criação da categoria “Instagrammer of The Year” nesse último CFDA Awards, o Oscar da moda americana. Quer outra evidência? O tremendo sucesso de um de seus concorrentes: Donald Robertson, que no mundo real é diretor criativo da Bobbi Brown Cosmetics, mas no virtual atua sob o perfil @donalddrawbertson, inundando o Insta diariamente com suas ilustrações inspiradas na moda e emseus personagens. “Sim, sou um serial poster”,confessou à Vogueo ilustrador, que no ambiente de trabalho é famoso por desenhar compulsivamente o rosto dos colegas durante as reuniões. “Todo mundo com quem trabalhei tem alguma ilustração minha, mas sei lá por que ninguém nunca havia postado. Bem, agora posto eu mesmo…E, como desenho em quantidades absurdas, posso abastecer meu perfil o dia todo.”
Munido de canetinha, fita crepe colorida,tinta e seu iPhone, tudo o que passa pelas mãos de Robertson se modifica. Pega caixas de sapato e as transforma em lojas fictícias de TomFord,faz retratos de Karl Lagerfeld e Dita von Teese em nozes, cria Birkins de cores vibrantes a partir de sacos de supermercado,e por aí vai.“Gosto de objetos com aparência mais grosseira,como sacos de lixo, saquinhos de papel tipo padaria,pacote de chiclete,coisas queemgeral a gente não leva a sério”, enumera. “Chamo o que faço de ‘lixo prestigioso’.  Me fascina a ideia de transformar itens que a gente joga fora sem pestanejar em artigos preciosos.Adoro essa ironia! Se eu cobrir uma caixinha de leite que você ia jogar fora com logos da Vuitton, todo mundo vai me procurar querendo uma igual. Minhas ilustrações são uma forma de crítica social,já que questiono sobre como jogamos fora as coisas o tempo todo sem pestanejar.”

A obra Paint Palette (Foto: Tara Sgroi/Divulgação e Divulgação)

Falando em Louis Vuitton, está aí um de seus temas mais recorrentes – mas não pense você que se trata de uma parceria comercial, marketing de guerrilha, nada disso.“Meu perfil é meu espaço, não faço nada comercial. Posto apenas e exatamente o que quero, se acabo promovendo alguém é porque realmente aprecio”, argumenta. Pergunto para ele se a LV viu e o que achou quando ele cobriu um rolo de papel higiênico com o monograma da marca.“Já me procuraram sim. Para dizer que amaram, que acharam hilário!” O mesmo, ele revela, aconteceu com a Chanel.“Uma bela manhã, acordei e peguei uma embalagem de um (perfume) número 5 que tinha em casa e a pintei inteira. Adivinha o que aconteceu? O pessoal da Chanel foi o primeiro a ver no meu feed e dar likes. Nunca imaginei que fossem ver, mas agora são meus seguidores.” Além de logos e símbolos das grandes maisons, outra fonte de inspiração são os próprios estilistas e personagens da cena fashion.


Além dos já citados Lagerfeld,TomFord e Dita, várias figurinhas tarimbadas povoam suas ilustrações, como as todo-poderosas Anna Wintour, Grace Coddington e Carine Roitfeld – essa última foi a host e musa inspiradora da exposição #donaldbytheyard (assim mesmo, com hashtag, entra agora no Instagram para conferir), na qual Donald cobriu todo o novo espaço da multimarcas Curve, em Downtown, com uma pintura contínua e ininterrupta feita em um rolo de papel, tendo como estrela Carine e amigos da moda. “A Carine é muito fácil de pintar. Graças ao seu estilo, você consegue desenhá-la em poucas linhas. As pessoas que mais me inspiram são como ela – aquelas que você reconhece pela silhueta, e que seu look prevalece sobre qualquer memória que temos dela”, explica. “Sou obcecado por figuras assim, que são quase personagens de desenho animado. Veja Karl Lagerfeld, ele nunca muda seu cabelo; ou Anna Wintour,ela sempre está do mesmo jeito. Eu nunca pintei Lady Gaga, por exemplo, porque a cada dia ela está de uma maneira, então não dá para saber o que ela realmente é. ” Seu personagem favorito, entretanto, é o rapper superstar Pharrell Williams. “Visualmente, ele é superconsistente. É cool, adora Vivienne Westwood e Adidas; ou seja, é praticamente um perfil ideal de Instagram.” A admiração,pelo visto,é mútua.“Ainda não o conheci pessoalmente,mas sei que já deu regram de um dos desenhos que fiz dele, fiquei superfeliz.”
A história de Donald com a moda, no entanto, começou bem antes de ele ter criado seu perfil no Instagram,em novembro de 2012. Original de Toronto, o canadense de 52 anos e com cara de caretinha e pai de família (ele é os dois,continue lendo para descobrir) estudou na Ontario School of Art, mas nunca se formou. Foi morar em Paris para tentar a sorte como ilustrador,mas não conseguiu deslanchar e terminou voltando para sua cidade natal depois deumano. O fracasso temporário como ilustrador lhe caiu bem, já que terminou sendo um dos fundadores da MAC Cosmetics, para quem criou,em 1994, a icônica campanha de conscientização da Aids com o batom Viva Glam.Em 1996, deixou o mundo da maquiagem e trabalhou por dez anos como diretor criativo tanto na Condé Nast quanto no grupo Hearst.“Nos meus tempos de MAC,costumava desenhar as campanhas como as imaginava, para que fossem fotografadas depois”, lembra, para ilustrar que nunca abandonou o desenho como forma de expressão. Em 2006, retornou à lucrativa indústria da beleza,assumindo sua atual posição na Bobbi Brown Cosmetics.

Trabalho da série inspirada na Copa do Mundo; ao lado, Smoking Lips. Na colagem acima, o artista transformou embalagem de saco para lixoemsaias (Foto: Tara Sgroi/Divulgação e Divulgação )


Dos tempos da moda, veio o amor da sua vida: a decoradora Kim Gieske, que já assinou interiores nas casas de Donatella Versace e Martha Stewart e que conheceu quando ela era editora da Glamour. Casaram-se em 2004 e, com ela, cria seus cinco fillhos (entre eles, os gêmeos Charles e Henry, que são sensação no Instagram). “Temos um mini exército em casa”, brinca (só a filha mais velha, do primeiro casamento e que já está na faculdade, não mora com o casal). O miniexército, do qual também faz parte o cão Donut,mais um hit do seu perfil, vive numa casa em Larchmont, no condado de Westchester, a 30 km do centro de Manhattan. “Morei no SoHo por muito tempo, mas minhas crianças são super outdoors, e sentimos que precisávamos dar isso a eles (são quatro meninos).” Seu estúdio,tão fotografado no Instagram, fica no porão.Para dar conta das duas facetas – artista e businessman –, Donald acorda todo dia às 4h da manhã. “Saio da cama e já faço três obras de cara – uma mais divertida, uma relacionada às notícias do dia e outra sobre algo que tenha sonhado.” Às 8h30, pega o trem para Manhattan e segue para o QG da Estée Lauder (império que hoje controla tanto a MAC quanto a Bobbi Brown),em Midtown.Aproveita o tempo livre na cidade para comercializar seus trabalhos, volta para casa, curte os filhos um pouco e vai para a cama espartanamente às 21h30. “Dez da noite no máximo, assim tenho pique para o dia seguinte.”
Só com tamanha disciplina e energia frenética para dar conta dos seus dois trabalhos, mais família e a penca de parcerias que engatou desde que começou a brilhar no mundo virtual: além de comercializar seu trabalho através do aplicativo Trendabl, emplacou mês passado sua primeira mostra solo em uma galeria de arte, a Eric Firestone, em East Hampton. Colaborou com o estilista britânico Giles Deacon duas vezes e com Lisa Perry, que depois de ver seu trabalho no Instagram o convocou para fazer uma intervenção com fita crepe em sua flagship na Madison Avenue e na passarela de seu último desfile.Recentemente, também criou papéis de parede para a Warby Parker.“Nem saberia contabilizar o quanto estou fazendo, trabalho em várias ideias ao mesmo tempo.”

Os filhos gêmeos do artista, Henry e Charles (apelidados de Thor e Loki, deuses da mitologia nórdica) são presença constante no Instagram de Donald Robertson e nas situações mais inusitadas (Foto: Tara Sgroi/Divulgação e Divulgação)


Tal ligação com a moda e com o pop acabou gerando comparações, e Donald está ciente disso – mas não exatamente de acordo. “A comparação com Andy Warhol é simplista, só porque sou obcecado pela cultura pop, porque uso sacos de lixo, de supermercado. Mas Warhol tinha mais essa onda silkscreen,tinha gente trabalhando para ele e, sinceramente, me identifico mesmo com pessoas que fazem as coisas com as próprias mãos.” Se tivesse de ser comparado a alguém,ele sugere outro nome.“Amo Damien Hirst, mas veja, não estou me comparando a ele, apenas o admiro. Sinceramente, não quero pertencer a nenhuma comunidade, tudo o que faço vem 100% da minha cabeça. Gosto mesmo é da ideia de misturar moda, arte e comercial, não quero alcançar nenhum estado de pureza artística.” (NÔ MELLO)

Conheça mais o trabalho de Donald Robertson - http://www.donaldrobertson.com/

Consultoria: site vogue.globo.com. Este texto é apenas um trecho da matéria "Warhol do Instagram". Leia o texto na íntegra na edição de julho da Vogue Brasil.

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